quarta-feira, julho 26, 2006

A IMPLOSÃO DA MENTIRA






A implosão da mentira

(Afonso Romano de Sant'Anna)





Mentiram-me.

Mentiram-me ontem e hoje mentem novamente.
Mentem de corpo e alma completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem sobretudo impunemente.

Não mentem tristes,
alegremente mentem.
Mentem tão nacionalmente que acho que mentindo história a fora
vão enganar a morte eternamente.

Mentem, mentem e calam
mas nas frases falam e desfilam de tal modo nuas
que mesmo o cego pode ver a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil e para alguns é cara e escura,
mas não se chega à verdade pela mentira
nem à democracia pela ditadura.

Evidentemente crer que uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo permanentemente.
Mentem, mentem caricaturalmente,
mentem como a careca mente ao pente,
mentem como a dentadura mente ao dente
mentem como a carroça à besta em frente,

mentem como a doença ao doente,
mentem como o espelho transparente mentem deslavadamente
como nenhuma lavadeira mente ao ver a nódoa sobre o rio
mentem com a cara limpa e na mão o sangue quente,
mentem ardentemente como doente nos seus instantes de febre,
mentem fabulosamente como o caçador que quer passar gato por lebre
e nessa pilha de mentiras a caça é que caça o caçador
e assim cada qual mente indubitavelmente.
Mentem partidariamente,
mentem incrivelmente,
mentem tropicalmente,
mentem hereditariamente,
mentem, mentem
e de tanto mentir tão bravamente
constróem um país de mentiras diariamente."
publicado por Kika Albuquerque em 23/julho/2005

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