quarta-feira, setembro 28, 2016

Morreu ex-presidente de Israel e Nobel da Paz Shimon Peres.







por Diario Digital





O ex-presidente de Israel e Nobel da Paz Shimon Peres morreu hoje, disse o seu médico pessoal à agência noticiosa francesa AFP.

O estadista de 93 anos morreu por volta das 03:00 (01:00 em Lisboa), afirmou Rafi Walden, que é também genro de Shimon Peres.

Shimon Peres sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) a 13 de setembro e encontrava-se hospitalizado desde então. Internado na unidade de cuidados intensivos, estava sedado e com respiração assistida. O último dos 'arquitetos' de uma paz que não prosperou, o último sobrevivente da geração dos "pais fundadores" de Israel, Shimon Peres foi um dos principais artesãos dos acordos de Oslo, defendendo o diálogo com os palestinianos como o único meio para alcançar a paz.

Artífice da segurança de Israel - sem nunca ter sequer passado pelo exército -, ocupou todos e cada um dos cargos possíveis, a partir dos quais deixou um indelével contributo para o desenvolvimento tecnológico, econômico e militar do seu país.

Nascido na Polónia a 02 de agosto de 1923, Peres chegou ainda criança, com a sua família, à Palestina sob mandato britânico e, com menos de 20 anos, foi descoberto pelo fundador de Israel, David Ben Gurion, ao lado do qual viveu a criação do Estado judeu em 1948, dirigiu o Serviço Naval e liderou a missão do Ministério da Defesa israelita nos Estados Unidos enquanto estudou em Harvard e em Nova Iorque.

O seu contributo mais reconhecido internacionalmente foi o de impulsionar da aproximação entre palestinianos e israelitas que culminou, em 1993, com o reconhecimento israelita da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e o início de um processo de negociações que aproximou como nunca ambas as partes no sonho da paz e que deveria ter conduzido à criação de um Estado palestiniano.

Apesar de a paz ter sido 'truncada' em 2000 pela Segunda Intifada e de as partes não terem conseguido voltar a encarrilar um diálogo frutífero, Shimon Peres continuou a erguer a bandeira da solução de dois estados e tornou-se numa voz conciliadora em prol da paz numa região submersa num conflito que dura há mais de um século. Shimon Peres foi o israelita que mais tempo exerceu a função de deputado, após entrar para o Parlamento em 1959 e servir ininterruptamente até 2007, altura em que foi eleito Presidente.

Um dos primeiros cargos políticos de Shimon Peres foi o de subdiretor-geral do Ministério da Defesa, nos anos 1950, tutela a que regressaria como ministro duas décadas mais tarde. Nesta primeira etapa da sua carreira política, Peres é reconhecido por ter estabelecido uma crucial aliança com a França, que concedeu a Israel a sua histórica supremacia aérea regional e o seu programa nuclear.

Shimon Peres contribuiu com Ben Gurion para a reunificação dos movimentos socialistas no Partido Trabalhista, por via do qual exerceu o cargo de ministro em cinco pastas desde 1969 até à disputa pela liderança do partido, em 1974, em que foi derrotado pelo mais carismático Isaac Rabin. Após a demissão de Isaac Rabin, três anos mais tarde, devido a um escândalo político, Peres foi por um breve período de tempo, primeiro-ministro em exercício, cargo que deixaria ao sair perdedor das eleições de 1977 diante do conservador Menahem Begin. Nas duas décadas seguintes, continuou na liderança do Partido Trabalhista e as suas tentativas para chegar ao Governo (em 1981, 1984, 1988 e 1990) foram infrutíferas. Isto apesar de ter sido primeiro-ministro entre 1984 e 1986 no âmbito de um acordo de rotatividade com Isaac Shamir (Likud).

Contra a recusa de Isaac Shamir, Shimon Peres lançou durante aqueles anos uma campanha de contactos com líderes árabes e abriu um canal de comunicação informal com figuras palestinianas. Uma manobra política em falso -- fez cair um governo confiando no apoio de partidos ultraortodoxos que depois o negaram --, a par com a rivalidade que mantinha com Rabin e a crescente influência de este levaram-no a voltar a perder a liderança trabalhista em 1992, começando-se a criar a sua fama em Israel de "eterno perdedor".

Rabin, o seu rival más acérrimo, nomeou-o nesse mesmo ano ministro dos Negócios Estrangeiros, o que daria lugar a um período de cooperação fora do comum entre ambos e que abriu caminho aos acordos de Oslo, assinados com os palestinianos em 1990, que os levaria a partilhar o Nobel da Paz, a par com o ex-presidente palestiniano Yaser Arafat.

Peres investiu o dinheiro do prêmio na criação do Centro Peres para a Paz, para promover a coexistência entre árabes e judeus. Depois do assassínio de Rabin, em 1995, voltou a assumir a chefia do Governo até ser derrotado por Benjamin Netanyahu em maio de 1996, deixando depois o partido nas mãos do general retirado Ehud Barak. Falhou a presidência em 2000, quando perdeu para o então quase desconhecido Moshe Katsav, mas alcançou-a finalmente em 2007.

Como chefe de Estado, cargo que abandonou em 2014, aos 91 anos, viveu a sua época dourada, em que rivais e aliados lhe reconhecem méritos, ganhando o mais elevado reconhecimento da cidadania israelita. Em sete décadas de carreira, foi primeiro-ministro por duas vezes, ministro em 16 governos, deputado durante 48 anos e chefe de Estado ao longo de sete.

Frases de Shimon Peres em entrevistas à Revista Veja

Confira integra, clicando aqui (Entrevista em 1991) e clicando aqui (Entrevista em 2001)
(Talvez seja obrigatório cadastro para acessar o arquivo digital da Revista: é rápido, fácil e gratuito)




“A OLP é o maior problema dos palestinos, é o obstáculo para a paz com Israel. Não é uma entidade séria. Promete e não cumpre”

“Apenas a força militar não é suficiente para frear as ameaças à segurança de Israel”

“O futuro de Israel não está na faixa de Gaza, mas no Oriente Médio como um todo, em sua convivência com os vizinhos”

“Ao acenarem na direção de Saddam Hussein, os palestinos erraram – e muito. Saddam perderá a guerra, isso é evidente, e o povo palestino também será listado entre os derrotados”

“Os tiranos devem ser liquidados”

“Com ou sem intifada, precisamos resolver o problema palestino de forma política”

“Não há alternativa (à paz com os palestinos)”



“Israel sempre foi um drama. É mais um drama do que um país”

“O problema é que a direita ocupou terras em excesso de nossos vizinhos, criando um mapa impossível de ser mantido na prática. Já a esquerda, para agradar à maioria, fez concessões demais”

“Ainda acho a paz possível”

“O vai-e-vem rápido do noticiário da televisão não ajuda a entender situações complexas como a do Oriente Médio”

“Não gosto da neutralidade, ela é uma forma de escape. Temos de fazer escolhas. E eu fiz a minha”

“O dia é dos visionários. A noite, dos sonhadores”

“Vejo soluções nas formas de coexistência entre os dois povos, mas não necessariamente coabitando no mesmo vilarejo”

“Da mesma forma que é capaz de grandes decisões, Arafat toma decisões erradas”

“Grande parte do Oriente Médio continua desconectada do resto do mundo, vivendo no passado. São lugares com ódios, nacionalismo exagerado e subdesenvolvimento econômico.”

“Quem teme a morte nunca aproveita a vida”

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