quinta-feira, janeiro 08, 2015

O Milagre está em Israel.




por Herman Glanz (para o Pletz)


Se Alguma Coisa Entre as Nações Possui o Caráter de Milagre, Este Milagre Está Aqui – Em Israel.

Certamente, todos devem ter tomado conhecimento das execuções cruéis das vítimas dos terroristas do Estado Islâmico, decapitando os sequestrados e mostrado pela mídia, como forma de aterrorizar o mundo, para que todos se submetam aos desígnios do terror. É a barbárie em nome da religião, e não a religião que prega o amor, a compreensão e a fraternidade.

Já tivemos ocasião de lembrar do grande escritor francês, François de Chateaubriand, da Academia Francesa, que visitou Jerusalém em 1806, ao tempo ainda dos navios a vela, (o motor a vapor somente foi introduzido em 1807), e contando sua viagem num livro: Itinerário de Paris a Jerusalém. Quando da visita a Jerusalém escreveu:

“Entrando na cidade, nada poderá consolar da tristeza exterior: a gente se esgueira por pequenas ruas não pavimentadas, que sobem e descem sobre um solo irregular e caminha-se sobre montes de lixo ou entre seixos rolados. Toalhas estendidas sobre cordas de uma casa à outra aumentam a escuridão desse labirinto; algumas lojas em arco e infectas acabam escondendo a luz da cidade desolada; algumas lojas despojadas destacam aos olhos a miséria e algumas vezes as próprias lojas são fechadas com medo da passagem de um cadi (o representante do governo NT). Ninguém nas ruas, ninguém nas portas da cidade; algumas vezes uma pessoa se esgueira na sombra, escondendo sob as vestes os frutos do seu trabalho, com medo de ser despojado pelo soldado muçulmano; ao dobrar numa esquina, um açougueiro árabe apregoa algumas rezes suspensas pelas patas num muro em ruínas: o ar desvairado e feroz deste homem, seus braços ensanguentados, faz crer que ele costuma sempre matar seu semelhante ao invés de imolar um carneiro.”

Tal descrição nos faz pensar como Chateaubriand inferiu tal pensamento, há mais de duzentos anos, numa Jerusalém abandonada e pouco habitada, já submetida à violência das forças de ocupação do Império Turco. E lembramos, que naquele tempo não se falava em terrorismo. E era a Jerusalém velha que hoje dizem ser dos vizinhos que a ocuparam pela força dos exércitos. A barbárie já se destacava naquele tempo.

Interessante o depoimento que se segue:

"Em meio a esta desolação extraordinária, é preciso parar um momento para contemplar coisas ainda mais extraordinárias. Por entre as ruínas de Jerusalém, duas espécies de povos independentes encontram na sua fé aquilo que os fazem suportar tantos horrores e misérias. Lá vivem religiosos cristãos e nada os podem forçar abandonar o túmulo de Jesus Cristo, nem a espoliação, nem os maus tratamentos, nem as ameaças de morte.(…)

Enquanto a nova Jerusalém sobressai assim do deserto brilhante de claridade, lancem-se os olhos entre a montanha de Sion e o Templo, veja-se este outro pequeno povo que vive separado do resto dos habitantes da cidade. Objeto particular de desprezo, ele baixa a cabeça sem se queixar; ele sofre todas as humilhações sem exigir justiça; ele se deixa assolar por golpes sem suspirar; se se lhe exige a cabeça, ele a apresenta à cimitarra. Se qualquer membro desta sociedade proscrita morre, seus companheiros irão, na calada da noite, enterrá-lo no vale de Josafá, à sombra do Templo de Salomão.(…)

Penetrando na morada deste povo, será encontrado numa terrível miséria, mas fazendo as crianças ler um livro, que por sua vez farão seus filhos ler este livro. O que faziam há cinco mil anos, este povo o faz ainda. Ele assistiu dezessete vezes a ruína de Jerusalém e nada o pode desencorajar, nada o pode impedir de voltar seus olhos para Sion. (…) Os persas, os gregos, os romanos desapareceram da terra; e um pequeno povo, cuja origem precede a daqueles grandes povos, existe ainda sem misturas nos escombros de sua pátria. Se alguma coisa entre as nações possui o caráter de milagre, pensamos que este caráter está aqui.”

Esta situação de perseguição pelos fundamentalistas religiosos perdura até hoje, não sendo novidade, portanto, especialmente da parte dos vizinhos de onde Israel foi reconstruído. Observa-se, da parte daquele autor, a presença de judeus e cristãos, ambos perseguidos pelos ocupantes de então e perseguidos pelos fundamentalistas religiosos de hoje. A descrição fala por si. Chateaubriand falando da Palestina, fala de Judéia e, evidentemente não poderia falar em Margem Ocidental. Mas fala na presença judaica, nas sinagogas, além das igrejas que visitou. E, interessante, descreve muitas datas pelo calendário hebreu.

O que se observa é a apropriação da religião pela cultura da barbárie, como ainda no período da Idade Média. É esse retorno ao obscurantismo que preocupa e se espalha pela Europa e América. E mais ainda, a apropriação dessa barbárie pela direita e pela esquerda, no afã de conquistar a grande população islâmica, tende a fazer muita gente, talvez menos esclarecida, a comungar com tais ideólogos do desastre, gente que até mesmo passa a se tornar suicida, achando que está contribuindo pelos direitos humanos e felicidade geral, sucumbindo a uma propaganda muito bem elaborada, gente que, parece, não consegue entender que essa propaganda é feita exclusivamente contra israelenses e judeus, e nada tem a ver com direitos humanos que, para essa propaganda nefasta, excluem judeus e cristãos, como descrito, há mais de dois séculos por Chateaubriand.

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