quinta-feira, maio 16, 2013

Islã x Islamismo.










por Daniel Pipes
The Washington Times


Original em inglês: Islam vs. Islamism
Tradução: Joseph Skilnik




Quais motivos estão por trás do atentado à Maratona de Boston no mês passado e o que aconteceria se o ataque ao trem VIA Rail Canada fosse concretizado?

Esquerdistas e pessoas ligadas ao establishment apresentam diversas respostas, imprecisas e já desgastadas, como extremismo violento ou ódio ao imperialismo ocidental, nenhuma delas merecedora de debates aprofundados. Por outro lado, conservadores lançam mão de um debate sério e caloroso entre seus correligionários: alguns dizem que o Islã, a religião, gera motivação, outros dizem ser uma variante extremista moderna da religião, conhecida como Islã radical ou islamismo.

Como participante no debate dos conservadores, a seguir apresento minha argumentação a favor de colocar em foco o islamismo.





Início do trauma muçulmano moderno: Napoleão na Batalha 
das Pirâmides, 1798, idealizado por Antoine-Jean Gros.






Aqueles que atribuem o problema ao Islã propriamente dito (por exemplo, ex-muçulmanos como Wafa Sultan e Ayaan Hirsi Ali), apontam para a consistência da vida de Maomé e o conteúdo do Alcorão e do Hadith à atual prática muçulmana. Concordando com o filme Fitna de Geert Wilders, eles apontam para a impressionante continuidade entre os versos corânicos e as ações da jihad. Eles citam as escrituras islâmicas para constatar o ponto de convergência da supremacia muçulmana, jihad e a misoginia, concluindo que uma forma moderada do Islã é impossível. Apontam para o primeiro ministro turco Recep Tayyip Erdoğan, que ridiculariza a própria noção de um Islã moderado. A questão crucial para eles é se "Maomé era muçulmano ou islamista". Eles sustentam que aqueles que culpam o islamismo, o fazem porcorreção política ou covardia.

A nossa resposta: Sim, existe certa continuidade e os islamistas, sem sombra de dúvida, seguem literalmente o Alcorão e o Hadith. Existem muçulmanos moderados mas carecem do poder, praticamente hegemônico dos islamistas. O fato de Erdoğan negar o Islã moderado aponta para uma curiosa sobreposição entre o ponto de vista do islamismo e do anti-islamismo. Maomé era rigorosamente muçulmano, não islamista, pois o conceito islamista data somente a partir dos anos de 1920. E de mais a mais, não somos covardes e sim, apresentamos nossa genuína análise.




E a análise é a seguinte:

Islã é uma religião de quatorze séculos com mais de um bilhão de seguidores que inclui desde os sufis quietistas até os violentos jihadistas. Os muçulmanos alcançaram sucessos militares, econômicos e culturais impressionantes, a grosso modo entre os anos 600 e 1200 da era comum. Ser muçulmano naquela época significava fazer parte da equipe vencedora, fato este que estimulou, e muito, a associarem sua fé com o sucesso mundano. Essas memórias de glória medieval permanecem não só vivas, mas são cruciais à confiança dos crentes no Islã e em si mesmos como muçulmanos.






A principal dissonância começou por volta de 1800, quando inesperadamente os muçulmanos foram perdendo guerras, mercados e liderança cultural para os europeus ocidentais. E continua nos dias de hoje, à medida que os muçulmanos vão regredindo aos índices mais baixos de praticamente qualquer nível de realização. Essa guinada causou imensa confusão e rancor. O que deu errado, por que Deus aparentemente abandonou Seus fiéis? A insuportável divergência entre as conquistas do período pré-moderno e o fracasso pós-moderno, originou o trauma.




Os muçulmanos reagiram a esta crise de três principais maneiras. Os secularistas querem que os muçulmanos se livrem da Shari'a (lei islâmica) e copiem o Ocidente. Os defensores da Shari'a também querem copiar o Ocidente, mas fingem que assim a estão respeitando. Os islamistas rejeitam o Ocidente em favor de uma aplicação retrógrada e integral da Shari'a.




Os islamistas abominam o Ocidente por ele ser equivalente ao cristianismo, o arquiinimigo histórico e a sua vasta influência sobre os muçulmanos. O islamismo estimula a ânsia de rejeitar, derrotar e subjugar a civilização ocidental. Apesar dessa ânsia, os islamistas absorvem as influências do Ocidente, incluindo o conceito de ideologia. De fato, o islamismo representa a transformação da fé islâmica em uma ideologia política. O islamismo corretamente indica uma versão com toque islâmico da utopia radical, um ismo como qualquer outro ismo, comparável ao fascismo e ao comunismo. Por exemplo, imitando aqueles dois movimentos, o islamismo se baseia por demais nas teorias de conspiração, para interpretar o mundo, a ponto de promover suas ambições, utilizando métodos violentos para alcançar seus objetivos.


Bernard Lewis publicou um livro em 2001 intitulado "What Went
Wrong" (O que Deu Errado)




Tendo o apoio de 10 a 15 por cento dos muçulmanos, o islamismo inspira-se em grupos devotos e qualificados que impactam bem além de seus limitados números. Ele representa uma ameaça à vida civilizada no Irã, Egito e não apenas nas ruas de Boston, mas também nas escolas, parlamentos e tribunais do Ocidente.

Nossa questão crucial é "qual é a proposta para derrotar o islamismo"? Aqueles que fazem do Islã, como um todo, seu inimigo, não só sucumbem a uma ilusão simplista e essencialista, como também carecem de qualquer mecanismo para derrotá-lo. Aqueles que se concentram no islamismo veem a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria como modelos para derrotar o terceiro totalitarismo. "Nós entendemos que o Islã radical é o problema e que o Islã moderado é a solução". Nós trabalhamos com os muçulmanos anti-islamistas a fim de derrotar um flagelo em comum. Venceremos essa nova variante de barbárie, de modo que uma forma moderna do Islã possa aparecer.








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