quinta-feira, novembro 15, 2012

Ehr Kumt – Ele Está Chegando











por Herman Glanz 


Entrevista para a Hora Israelita de Porto Alegre – Por ocasião dos 74 anos da Noite dos Cristais – 09 e 10/11/1938.


Em 2 de maio de 1933, Coelho Netto, o grande escritor brasileiro, publicava no Jornal do Brasil do Rio de Janeiro, então Capital da República: “Ter-se-ão calado, para sempre, as grandes vozes heroicas que entoaram os hinos da libertação judaica, quando Moisés, desafiando a força faraônica, conclamando o povo o levou através das águas vermelhas para as veigas abundantes do país prometido?”. Na mesma ocasião, 1933, outro escritor brasileiro, Humberto de Campos escrevia: “O mundo inteiro levanta-se, neste momento, em favor de Israel, ameaçado na Alemanha pelo antissemitismo de Hitler.”


Em março de 1933, chamamos a atenção: Hitler assumiu o poder em 30 de janeiro de 1933; março, portanto, era pouco mais de um mês depois da ascensão de Hitler. Em março de 1933, saía no jornal “O Estado de São Paulo”, conhecido hoje como o “Estadão”, artigo de Paris, da lavra de Francesco Nitti, sobre a situação dos judeus na Alemanha. Nitti, judeu italiano, foi Primeiro-Ministro da Itália logo depois da Primeira Guerra, fugindo após a subida de Mussolini. Escrevia Nitti:


“Em Berlim, os maiores estabelecimentos comerciais são de judeus; os maiores de todos são os da casa Tietze. Visitei as maiores lojas de Londres, Nova Iorque e Paris, mas nada me impressionou tanto como a grandiosa organização Tietze. Um pretexto? A imprensa nazista , de acordo com o governo, publicou um documento do qual resultava que Tietze subsidiava e mantinha o partido comunista. (…). A Casa Tietze imediatamente declarou que o documento era falso. Mas a declaração de nada serviu e a polícia mandou invadir e saquear as lojas.”


Mas em 1938, um incidente nos faz lembrar a “Noite dos Cristais”, “Kristhalnacht”. Em 28 de outubro de 1938, HERSCHEL GRYNSZPAN, de 17 anos, que vivia em Paris, soube que seus pais, que estavam em Hanover, na Alemanha, naquele dia foram expulsos, juntamente com 20.000 judeus poloneses, e mandados para um Campo de Concentração. Não aceitando a indiferença, procurou o embaixador alemão em Paris, sendo encaminhado ao 3° conselheiro nazista, Ernst von Rath, e atira nele, que veio a falecer em 7 de novembro. Na noite de 9 para 10 de novembro, os nazistas deslancham um pogrom contra os judeus, destruindo sinagogas e quebrando as vitrinas de vidro das lojas judaicas – daí os cacos de cristais espalhados pelas ruas – a Noite dos Cristais.


Já se quebravam lojas de judeus em 1933, um mês depois da chegada de Hitler. Mas a indiferença anestesiava as reações. Falando em 1938, no Ano Novo judaico de 5771, 2010, o Rabino Schlomo Lewis, de Atlanta, EUA, pronunciou o seu Sermão, que muitos acham o Sermão do Século. Conta o próprio Rabino, que ao saber de sua visita à Lituânia, pouco antes, para ver os locais onde viveram seus parentes, um dos congregantes se aproximou e relatou:


“Recordo um sábado de 1938, quando Vladimir Jabotinsky veio à sinagoga Choral.”(…). “Quando Jabotinky veio, pronunciou um sensacional sermão naquela manhã de sábado e ainda tenho as suas palavras nos meus ouvidos. Ele subiu ao púlpito, olhou para nós com olhos cheios de fogo e gritou: “EHR KUMT, YIDN, FARLAST AYER SHTETL” – (ele está chegando, judeus, abandonem sua cidadezinha.) Pensávamos que estávamos em segurança na Lituânia, livres de Hitler. Vivíamos lá, lá crescemos durante mil anos, mas Jabotinsky estava certo – sua advertência era profética. Nós conseguimos sair, mas muitos não.”


Quando observamos movimentos hostis confundindo as coisas, com passeatas “previstas” e queima de bandeiras de Israel no fim do mês, programadas para Porto Alegre, devemos pensar e reagir: Ehr Kumt. Podem até ocorrer depredações. Não podemos deixar que se usem as liberdades para eliminá-las, para abolir os direitos dos outros e para destilar o velho ódio antissemita. Isto é preocupante. Observam-se movimentos semelhantes na Europa e nos EUA. Em Toulouse, na França, por duas vezes judeus foram atacados e mortos. Lá compareceu o Primeiro-Ministro de Israel, Netanyahu, com o Presidente francês, socialista Hollande, para reverenciar as vítimas judaicas. Ocorrem manifestações e ataques, dessacralizações de cemitérios judaicos, pichações de sinagogas, em vários países da Europa e até nos EUA. Protestos podem ser feitos, passeatas ordeiras, mas os próprios organizadores devem ser contra os usos indevidos dos protestos.


Os próprios organizadores e os Partidos políticos que os apoiam devem repudiar, com toda a clareza, sem ambiguidades, o desrespeito aos diferentes, só porque o são diferentes. E esses grupos e os Partidos políticos associados são contra porque querem apoiar um único lado, mas não podem matar e destruir o outro, tal qual na “Noite dos Cristais”. Que os Partido políticos, que se aproveitam dos protestos, se declarem contra a discriminação e o antissemitismo e contra queima das bandeiras. Do contrário, EHR KUMT. Não podemos permitir a pergunta de Coelho Netto: “Ter-se-ão calado, para sempre, as grandes vozes heroicas que entoaram os hinos da libertação judaica?”

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Sobre o "Fórum Social Mundial Palestina Livre" apoiado abertamente por Tarso Genro, governador em exercício do Rio Grande do Sul, que hospeda o ativista assassino Césare Battisti, Reinaldo Azevedo comprou uma briga ao reprovar a realização de um Fórum abertamente anti-Israel:

-Pois é… O governador Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul, decidiu apoiar oficialmente um troço chamado “Fórum Social Mundial Palestina Livre”.


A coisa pegou fogo na Internet. Há um documento oficial sobre o evento. Ele deixa claro que se trata de um acontecimento contra o estado de Israel e que, na prática, justifica as ações terroristas. De tal sorte o governo do estado se envolveu com a coisa que o endereço para inscrição traz a marca “rs.gov”. Tarso tem origem judaica — sua mãe era judia. Isso não o protege necessariamente de tentações antissemitas. Não peço licença a judeus ou a não judeus para defender a existência daquele estado — ou outra ideia qualquer. Sustento que o governador está financiando uma atividade que fere o que está disposto na Constituição brasileira.
Muito bem. Publiquei ontem o post, e o governador resolveu reagir com uma nota oficial “de esclarecimento”. Eu a reproduzo em vermelho e comento em azul. “Democratas” como Tarso Genro sempre testam os meus melhores instintos.
Nota de esclarecimento

Nesta terça-feira (13), o governador Tarso Genro conversou, longamente, com o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, sobre o Fórum Social Palestina Livre, que será realizado em Porto Alegre no final deste mês. 
Tarso Genro assegurou que eventuais posições que possam ser manifestadas neste evento só serão apoiadas pelo Governo do Rio Grande do Sul se estiverem norteadas pela posição do Governo Brasileiro sobre o conflito entre israelenses e palestinos no Oriente Médio.
Lottenberg fala em nome de um grupo com ligações específicas com o tema do debate, e compreendo que possa ser, assim, moderado… Como não sou judeu, não pode pesar sobre mim a suspeita de parcialidade. Estou mais livre para sustentar: a pauta do fórum é anti-Israel; os palestrantes são anti-Israel; as reivindicações, entendidas como consenso do povo palestino (o que é mentira!), são anti-Israel. Logo, o evento é contra um país e contra um povo.

Tarso quer enganar a quem? Não sei se Lottenberg, sendo judeu, ficou satisfeito com o “esclarecimento”. Eu, que não sou, não fiquei. O tal fórum tem um documento de referência. Na prática, justifica o terrorismo. Ora, ninguém dá apoio oficial a um fórum como esse, com essa pauta, para afirmar que não se compromete com eventuais “posições” ali defendidas. Então Tarso Genro financia um evento que prega o boicote internacional a Israel e depois diz que a sua posição é a do governo brasileiro?
Ao presidente da Conib, Tarso esclareceu, ainda, que o apoio ao evento foi aprovado por se tratar de uma atividade vinculada ao Fórum Social Mundial, sem compromisso com as posições políticas que ali serão sustentadas pelos diversos integrantes do fórum.
Isso é conversa para boi dormir. O Fórum, como deixa evidente a sua pauta, não se limita a defender a existência do estado palestino. Vai muito além disso. Por que Tarso Genro não financia, só a título de debate, um seminário que pregue, deixe-me ver…, o fim dos petistas? O que lhes parece? Ele daria o dinheiro e as condições materiais para o encontro, mas sem se comprometer com as conclusões do seminário… Trata-se de uma justificativa covarde para uma ação covarde.
As posições do Governo do Rio Grande do Sul, que serão reafirmadas durante o evento, estão baseadas nos seguintes princípios: 
- Apreço às comunidades israelense e palestina, que convivem em harmonia no Rio Grande do Sul, e colaboração no debate para promover uma paz negociada e justa na região, com cessação completa das hostilidades;
Eis o humorista Tarso Genro. Insisto: a pauta do evento deixa claro que não se vai discutir a harmonia ou desarmonia das comunidades “israelense” e “palestina” do Rio Grande do Sul. Aliás, eu ignorava, até a existência dessa nota, que houvesse “israelenses e palestinos” no estado em número tão considerável. Talvez a nota tente se referir a judeus e árabes…
- Reconhecimento do direito do povo palestino de estruturar seu Estado soberano e reconhecimento do direito à existência do Estado de Israel;
Um dos itens da pauta é a chamada “volta dos refugiados”… Na forma como vem a reivindicação, isso significa, por si, negar “o direito à existência do Estado de Israel”.
- Aplicação dos acordos de Oslo e apoio às decisões das Nações Unidas sobre o conflito.

As Nações Unidas rejeitam as ações terroristas, que são incorporadas pelo “documento de referência” do encontro.
Na conversa entre o governador e o presidente da Conib, ficou claro que qualquer manifestação que desconsidere os princípios acima citados não será endossada pelo Governo do Rio Grande do Sul. As posições expostas por Tarso Genro são as mesmas do Governo Federal. Ele propôs que as comunidades gaúchas de palestinos e israelenses reúnam-se com o governador no Palácio Piratini, como já ocorrera quando este era prefeito de Porto Alegre, num evento marcante de amizade, respeito e solidariedade entre os povos.

É patético! Reitero que ignorava a existência de “gaúchos” pertencentes às comunidades “israelense” e “palestina”… Refere-se especificamente a imigrantes? O próprio Lottenberg, que eu saiba, é um brasileiro… judeu! De toda sorte, os conflitos relevantes entre judeus israelenses e árabes palestinos não se dão no Rio Grande do Sul, mas em Israel. Nos países árabes, diga-se, os judeus costumam encontrar poucas dificuldades porque quase não há judeus em países árabes. Não sei se fui muito sutil…
Tarso, então, financia um encontro escancaradamente contra Israel e depois chama todo mundo para um bate-papo? Oferece recursos para que se defendam as ações do Hamas — é o que está na pauta — e depois convida os dois lados para dividir latkes com kafta no Palácio Piratini?
Eu não preciso fazer média com o senhor Tarso Genro e não preciso comparecer à sua festinha, que encobre uma pauta sangrenta. As palavras fazem sentido. E eu prezo o sentido das palavras. O senhor Tarso Genro, ao financiar o fórum anti-Israel, está desrespeitando a Constituição da República Federativa do Brasil. E deveria ser levado à barra dos tribunais por isso. 

Por Reinaldo Azevedo





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