quarta-feira, outubro 24, 2012

A difícil equação da paz.









por Herman Glanz 







O historiador israelense, Benny Morris, um dos “novos historiadores”, grupo da linha da esquerda, em entrevista ao jornal Haaretz, de 20/09/2012, afirmou ser impossível um acordo de paz com os palestinos porque eles não aceitam a existência de um Estado de Israel no território da Palestina, que consideram englobar toda a área do Estado de Israel. Todo o conflito está centrado neste detalhe. Por esta razão, vê como impossível a solução de dois Estados. Devemos ter presente que Benny Morris escreveu livro sobre os chamados “refugiados palestinos” culpando Israel e que os “novos historiadores” chegaram a subverter toda a historiografia israelense; os livros escolares, por exemplo, não apresentavam fotografias de Herzl, Ben Gurion, Moshe Dayan, Golda Meir, mas de Gamal Abdel Nasser e Bourghiba. Tudo foi revisto.

Benny Morris explica suas conclusões, demonstrando que os árabes nunca abriram mão do território da Palestina, não havendo lugar para um Estado Judeu no local. Por outro lado, diz, a liderança judaica e sionista sempre se mostrou disposta a abrir mão de partes do território da Palestina, que fora destinada a constituir o Lar Nacional Judaico. Mostra que tal ocorreu em 1937, quando a Comissão Peel, em razão da violência árabe contra os judeus da Palestina, provocando massacres, propunha a partilha do território, (esclarecemos que já se tratava do território remanescente do Lar Nacional), mas os árabes não aceitaram, isto é, os países árabes, mas a liderança judaica e sionista aceitara. (deve ser observado que não havia povo palestino naquela ocasião, sendo a negativa pronunciada pelos países árabes). O mesmo voltou a ocorrer com a Partilha da Palestina promovida, desta vez, pela Assembleia-Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947, aceita pela liderança judaica e sionista, e rejeitada pelos árabes (países árabes), observando-se, também, a inexistência de povo palestino em 1947.

Devemos lembrar da partilha imposta pela Inglaterra, Potência Mandatária, retirando quase 80% do território da Palestina para poder criar o Emirado da Transjordânia (hoje Jordânia), o que foi aceito pela liderança judaica e sionista, em julho de 1922, e que acabou motivando um cisma na Organização Sionista Mundial, com a renúncia de um dos seus dirigentes, Zeev Jabotinsky, contrário a essa perda de território, e cunhando um lema: “Duas margens tem o Rio Jordão – esta é nossa e a outra também. Tanto em 1922, quanto em 1937 e em 1947, a Organização Sionista tinha na direção Chaim Weizmann e David Ben Gurion. Os judeus sempre queriam um Estado, por menor que fosse, para viver em paz.

O Tratado de Paz com o Egito entregou todo o Sinai, tendo Menahem Begin afirmado que nunca o Sinai fora reivindicado pelos judeus, por isso não se opôs. Depois vieram os Acordos de Oslo, com Rabin, Shimon Peres, Ehud Barak e mesmo Natanyiahu, em governo anterior, entregando partes da Margem Ocidental em consequência dos Acordos, e, em 2005, Ariel Sharon entregou, unilateralmente, a Faixa de Gaza e mais partes da Margem Ocidental. Tudo visando a paz, num princípio de Terras por Paz, paz que nunca aconteceu.

Devemos acrescentar que outro fator que corrobora com Benny Morris é a determinação islâmica fundamentalista de que “uma vez conquistado um território, mesmo pela força, passa a constituir território islâmico perpétuo e nenhum muçulmano tem o poder de ceder tal território, no todo ou em parte”. Essa situação ficou evidente em duas ocasiões: a primeira, quando das discussões do Tratado de Paz com o Egito e existiam duas pequenas vilas no Sinai, junto da divisa com a Faixa de Gaza, levantadas logo depois de 1967 – Yamit e Sal-it. Os israelenses achavam que não haveria a menor dificuldade em mantê-las, até argumentando que quem faz a guerra e perde, paga com território e se tratava de área de tamanho insignificante.

Sadat se manteve firme, não podendo desprezar um centímetro de território e foi Begin quem cedeu. A segunda vez aconteceu com o Hotel Sonesta, em Taba, na fronteira com o Sinai, quando, por erro de locação, uma quina do prédio do hotel avançou uma insignificância sobre o Sinai – Israel cedeu tudo. Os muçulmanos nunca cedem território e quando são expulsos, se acham obrigados a retomá-lo, leve o tempo que for necessário. Esse é o caso de Al Andaluz, esperando os muçulmanos o retorno do Califado europeu.

Aliás, Mahmoud Abbas expressou isso com toda clareza, nesta semana, numa declaração na sua página oficial no Facebook. Lá ele declara francamente de que Israel está ocupando ilegalmente território palestino, não somente na Judeia e Samária, mas pelo contrário, “isso se aplica a todos os territórios que Israel ocupa de antes de junho de 1967.” E não devemos esquecer que nos Acordos de Oslo o finado Arafat disse aceitar Israel em carte à parte, não figurando nos textos da Declaração de Princípios e que a Carta da OLP, apesar dos Acordos, não foi emendada e continuam os artigos contrários à existência de Israel.

Entender uma afirmação de um historiador como Benny Morris nos mostra, sob um ângulo prático, quão difícil é a paz no Oriente Médio e não devemos esquecer, nos dias de hoje, que a Primavera Árabe nada tem a ver com Israel. O que temos permanentemente falado está agora, ao que parece, sendo entendido por outros de diferentes espectros. Devemos lamentar a situação e ter esperança de que os verdadeiros moderados surjam, e teremos paz.

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